Estava eu muito contente a dobrar roupa e a ouvir o Stereomood no happy – coisa estranha, eu feliz a dobrar roupa -, ensaiando até uns passos de dança quando a música pedia, e a pensar: adolescência my ass, nunca fui tão feliz como agora. E preparava já mentalmente o que vinha aqui escrever, que a adolescência, ao contrário do que nos tentam vender, não é o período mais feliz das nossas vidas e que devíamos dar início a um processo de desintoxicação dos nossos adolescentes que, coitadinhos, devem andar frustradíssimos sem perceber por que raio são tão miseráveis quando o mundo lhes diz que deviam ser tão felizes.
Eu nunca estive tão em paz comigo mesma como hoje. Sei quem sou, sei em que caminho estou e fui eu que o escolhi. Lutei por ele e tive a imensa sorte de poder lutar por ele. Problemas de auto-estima ainda cá estão, especialmente assanhados quando vou às compras ou quando passo por espelhos. Mas consigo viver melhor com eles hoje do que há 15 anos. Parece que cresci alguma coisa, felizmente. Tenho a sorte de ter alguém ao meu lado que todos os dias me diz que me ama e que me acha bonita – e, mesmo que eu não acredite, faz-me bem.
Mas a pilha de roupa era grande e ainda ia a meio quando a ideia deu meia volta. Não, não posso escrever isto. Porque a verdade é que eu tive a sorte de uma segunda quase adolescência. Sem pegas com os pais, sem afirmações de independência, sem namorados parvos e colegas idiotas. Mas uma quase adolescência aos 30, uma segunda volta na faculdade, com a cabeça mais resolvida. Sem emprego, sem chefes, sem colegas dos bons ou dos maus. Sem grandes preocupações. A adolescência é que vem na idade errada, quando ainda não estamos preparados para os melhores anos. Já não me sentia tão segura da legitimidade da minha felicidade.
Mas mais uma volta, mais uma camisola e não, afinal não é bem isso. Não tenho emprego, é certo, mas também tenho prazos e como chefes tenho professores com a mania que têm de ser maus para serem respeitados. Tenho colegas, dos bons e dos maus, uns que fazem birras, outros que choram de frustração e nervos, outros que se apunhalam pelas costas. Trago muito trabalho para casa, passo meses sem ter fins-de-semana e ainda temos de tratar das compras, das roupas, dos jantares e da casa. Afinal, parece que posso ficar feliz com a minha felicidade. Continuo a reconhecer e a agradecer a sorte que tenho, todos os dias. Uma segunda oportunidade caída do céu, mas que não é uma segunda adolescência. É uma coisa pela qual trabalhei e trabalho muito e há alturas em que tenho de me lembrar disto. Para não me esquecer que, apesar da sorte, eu fiz por merecê-la.