Gosto de morar numa cidade pequena. Gosto que o arquitecto com quem estou a pensar uma casa tenha sido aluno da minha mãe quando ela estava grávida de mim. Que a irmã dele tenha sido minha professora e que o pai tenha cantado comigo no coro. Gosto que um dos melhores amigos do meu filho seja filho de uma pessoa com quem brinquei quanto eu tinha a idade deles e neto de uma amiga da minha mãe, minha professora de português. Gosto de encontrar na rua uma antiga professora, afamada solteirona que morava com os pais já entrada em anos e de a ver, finalmente, de braço dado com alguém e um ar feliz. Gosto de conhecer quem me vende os legumes, a fruta e o peixe, como a minha mãe conhecia quando eu era pequena. Gosto que quem me vende a fruta e os legumes seja minha vizinha, a quem posso ligar para me trazer as coisas para cima, quando não consigo ir ao mercado.
Claro que tudo se sabe e privacidade é uma utopia. Mas prefiro isto, estes cruzamentos entre as nossas vidas nas voltas que elas dão ao anonimato frio e sozinho das grandes cidades.
Tendo vivido toda a infância e adolescência num sítio como esses, digo sem hesitar que prefiro a liberdade estonteante que as grandes cidades me dão de ser quem eu realmente sou ou quem eu me apetece ser em determinado momento, não só pelo seu anonimato frio e sozinho, mas pela possibilidade constante de começar de novo.
(Nunca me teria passado pela cabeça começar a correr se tivesse ficado a viver onde sempre vivi, nunca me passaria pela cabeça usar a bicicleta como principal meio de transporte, nem vestir certas coisas que visto, nem nunca teria desenvolvido esta orgulhosa autonomia e resiliência que me faz sentir um ser humano mais inteiro e independente, a tantos níveis, do que alguma vez fui).
Percebo. Felizmente sempre me senti livre para ser quem sou, vestir como quero e fazer o que quero onde moro. Mesmo quando não me sentia bem na minha pele ou sobretudo no meu corpo.
Para mim não é só uma questão de ser livre no sentido de não ser alvo de intrigas mesquinhas. Nem só sobre a liberdade de experimentar coisas novas sem julgamento. É a liberdade das amarras da inércia próprias de percorrer os mesmos sítios e de conviver com as mesmas pessoas toda a vida. Se tivesse continuado a viver na minha terra, sei que seria uma pessoa muito menos autónoma e mais dependente da família para o dia-a-dia (não teria aprendido a montar cómodas de IKEA sozinha, por exemplo). Imagino que seja possível esse crescimento no mesmo sítio de sempre, para mim não teria sido.
Boa tarde,
Aceita parceria (troca de links) entre os nossos dois sites?
politicaportuguesaeinternacional.blogspot.pt
O meu é um blog de actualização de notícias e de opinião pessoal sobre política e relações internacionais de dois colegas de carteira do curso de RI da UAL. Destaque para política portuguesa, europeia, brasileira e americana e claro para a nossa paixão comum as relações internacionais mundiais.
Desde já os meus parabéns pelo seu trabalho e acho que podemos ganhar os dois com esta parceria.
O que lhe parece?
Cumprimentos
Tiago Wemans
Concordo com o post mas também concordo com o primeiro comentário. As pequenas cidades têm todas essas vantagens, o aconchego de saber que se está seguro e em boas mãos, a entreajuda… mas também propicia cusquices diversas e uma sensação de que tudo o que eu fizer ou disser vai ser comentado, principalmente se for algo diferente. Já deixei de vestir certas coisas por saber que as pessoas da minha terriola iam olhar e comentar e prefiro não usar do que lidar com isso. Se eu hoje sair de casa para caminhar, amanhã toda a gente sabe até as cores das meias que tinha calçadas quando saí. Enfim, mesquinhices.
Claro que é uma questão de ponderação e equilíbrio, de saber escolher o que é mais importante (a segurança ou a liberdade) e, acima de tudo, uma questão de sermos quem somos sem ligar aos outros. Mas lá que é chato, é, em muitos e muitos aspetos.
Eu também, mil vezes isso.
Acabei de ler seu post e achei interessante comentar, belo post.
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