Monthly Archives: Setembro 2013

lullabye baby o tanas

A criança não gosta de dormir. Está no seu direito, pronto, eu também não gosto de passar a ferro e de fazer exercício. Mas a verdade é que um bebé de 2 meses TEM de dormir. De dia vai dormitando, uns dias mais outros menos. De noite, apesar de acordar com frequência, felizmente dorme.
Há umas semanas achámos que estava a habituar-se a adormecer ao colo e tratámos de tentar mudar isso. Instituímos uma rotina de deitar, com troca de fralda e vestir pijama já no quarto, a baixa luz, uma massagem com creme relaxante, mama quase às escuras e deixar o bebé adormecer sozinho. Claro que somos incapazes de o deixar a berrar até se cansar (somos completamente contra o método Ferber – eles não aprendem a acalmar-se com esse método, aprendem o abandono, desistem porque ninguém vem) e por isso vamos aumentando o tempo que demoramos a responder ao choro: 2 minutos da primeira vez, 4 da segunda e por aí fora. Estava a resultar bem e ao fim de lá irmos 3 ou 4 vezes ele adormecia.
Há 4 dias acabou-se a paz. A criança parece ter percebido que espera lá, mudar a fralda aqui, massagem, leite às escuras… Isto é para dormir! E já não há quem o cale. Não come, berra como se o estivessem a matar, fica a soluçar durante meia hora e só se cala e adormece, finalmente, ao colo. E agora? Não sei. Mudamos a rotina e temos mais uns dias de sossego até ele perceber a nova? Ou damos-lhe mais umas semanas antes de tentarmos outra vez? Raio de miúdo esperto…

A dívida externa? Perdi tudo no bingo. O Cavaco também fui eu, batotice nas contagens. A chuva de hoje? Tricas com o São Pedro. A sério, as torres, o JFK, a cara da Manuela Moura Guedes, a carreira musical da Mafalda Veiga, o José Cid em pelota – tudo culpa minha, confesso tudo. Parem lá com a tortura do sono.

o blog mais monótono de sempre

É um bocado sufocante que o meu estado de espírito se tenha tornado dependente, em exclusivo, da “vontade” do meu filho. Quando me perguntam como estou respondo habitualmente em função das horas que dormi e da qualidade da noite que passou. Ou das sestas que ele  tenha feito durante o dia, permitindo-me ser um bocadinho mais que a sua fonte de alimentação e conforto. Dói ver-me assim reduzida.

Às vezes há dias em que me arrependo até à última célula do meu corpo. Pela perda da minha paz, que custou tanto a encontrar e conquistar. Pelas aulas que estou a perder, por não estar a cumprir o meu sonho de sempre. Há dias em que me sinto um trapo, incapaz de continuar. E dias em que o sol espreita atrás do nevoeiro.

Para a semana volto à escola e já prevejo um misto de felicidade e angústia. Dizem que há vida depois dos filhos e neste mês comecei a acreditar que isso só aconteceria daqui a 18 anos. Afinal é na segunda. E ainda que sejam só 6h por semana, vai fazer-me bem o ar, as pessoas, o regresso a mim.

isso ou super cola 3

Estou a pensar seriamente passar uns elásticos por aqueles 4 buraquinhos que a chupeta tem para lha prender à cara, tipo máscara cirúrgica.

portugal e o incentivo à natalidade

Para o nosso escalão não há abono nem incentivo à procriação. Até aqui tudo bem, acho que devem ser coisas reservadas a quem mais precisa, sobretudo em tempos de crise. Mas passámos a ter um dependente – e qual é a redução na retenção na fonte no nosso irs? Zero. Depois venham falar de populações envelhecidas e pirâmides invertidas e o raio que os parta.

life interrupted

Há coisas que acontecem na vida que nos deixam em suspenso, incrédulos. Coisas que temos de repetir vezes sem conta, como se só assim fosse possível serem mesmo reais. Entrar em Medicina perto de casa. Morrer-me a minha mãe. Ter um filho. São tão inacreditáveis, tão quase impossíveis que não nos deixamos acreditar nelas. Repetimo-las vezes sem conta, à espera daquele momento em que se tornam parte de nós, confortáveis na nossa pele. Com umas chegamos lá. Outras são tão absurdas que permanecem impossíveis para sempre.

Tenho um filho. Tenho um filho. Tenho um filho.

Caramba, eu que ainda nem sou gente a sério, que sinto e sei todos os dias que ainda não fiz nada com a minha vida. Que me encontrei quase só ontem. Tenho um filho.

and (almost) nothing else matters

As saudades que vou ter destas bochechas, de as encher de beijos, de as cheirar. E de te fazer cócegas no pescoço, com beijos quando te tenho ao colo. De te sentir aninhado em mim, quando estás quase quase a dormir. De te ver dormir e suspirar e levantar as mãozinhas. As saudades que eu vou ter de ti, meu filho pequenino a crescer a correr.

groundhog day

Não há horários, o leite não chega, o sono também não. Há horas intermináveis de choros inexplicáveis, sem mais dores que as de fazer crescer um sistema nervoso imaturo e sobre-estimulado. Há dores de crescer de mãe também, sempre que alguém, além do pai, lhe pega e lhe chama meu menino. O menino é meu, só meu, já não está aqui dentro mas nunca deixará de estar.

Houve dias intermináveis de lágrimas e sensação de fim de uma coisa que ainda agora começou, como se fossem já as saudades do filho que um dia sairá de casa e será cada vez mais dele e do mundo e cada vez menos meu. Achamo-nos perdidas, bichos raros, arrogantemente pensamos que ninguém mais sabe ou sente isto que quase explode cá por dentro. E depois, nos cinco minutos que conseguimos dedicar ao restante mundo, vemos que há mais quem pense e sinta exactamente assim. E respiramos de alívio, parece que é normal, há-de passar. E passou.

Não passou o sono, parece não passar nunca. Não acordo imediatamente mais feliz por ele existir – é ele o meu despertador e, como a qualquer alarme, o primeiro instinto é martelar o snooze e dormir mais 10 minutos. Mas espantado o sono, recordadas as bochechas, o cheiro, às vezes o sorriso, se tenho sorte, inundo-me repetidamente de amor. E levanto-me e levanto-o, vamos os dois para a sala, abrimos a janela, cheiramos o mar e sentamo-nos. Dar de mamar é maravilhoso nos primeiros 2 minutos e durante o dia, nos restantes é chato e interminável, à noite é tortura. Não gosto de dar de mamar, não gosto de me sentir má e menos mãe por não ter leite que chegue, por ele ter dores de barriga e refluxo e obstipação por ter de lhe dar leite de lata – e sim, eu sei que a culpa não é minha, mas os argumentos racionais pesam muito pouco numa tempestade hormonal.

Dizem que um dia ficará mais fácil. Que ele vai aprender a dormir mais do que 3 horas seguidas, que vão passar as dores, que haverá sorrisos e gargalhadas e beijinhos e muito mimo. Dizem. Neste momento em que me encontro tudo me parece miragem. Os dias e as noites sucedem-se em catadupa, todos iguais, um único e contínuo dia interminável. Espero pelo dia em que este groundhog day acabe e amanhã seja, verdadeiramente, um novo dia.